Empreender-se em rede, com Oswaldo Oliveira: as redes

Este texto possui duas partes. Leia a primeira aqui.

“Around December 1966, I presented a paper at the American Marketing Association called ‘Marketing in the Year 2000.’ I described push-and-pull communications and how we’re going to do our shopping via a television set and a virtual department store. If you want to buy a drill, you click on Hardware and that shows Tools and you click on that and go deeper.”

Paul Baran, em entrevista para a Wired

Paul Baran foi um dos pilares daquilo que conheceríamos, décadas depois, como internet. Foi ele que, durante a época de Guerra Fria, repensou o modelo dos centros de comunicação: em vez de algo centralizado, a ideia era de uma comunicação totalmente distribuída, dificultando a desativação dos sistemas em caso de ataque inimigo direcionado. Seu diagrama é hoje amplamente usado para também explicar como deveríamos nós, enquanto sociedade, agir.

O diagrama de Paul Baran, presente em On Distributed Communications, de 1964. Nele, são mostrados os diferentes tipos de comunicação: centralizada, descentralizada e distribuída.

Comunicação centralizada: altamente conhecida por nós. Palestrantes, âncoras de telejornais, políticos em palanque, todos eles funcionam como nó central transmissor de uma informação.

Comunicação descentralizada: nada mais é do que pequenas cadeias centralizadoras que se unem em alguns pontos. Essa estrutura hierárquica rege praticamente todas as nossas interações – um grupo de trabalho que possui um chefe, este chefe possui outro chefe e todas essas pessoas ainda estão sob o guarda-chuva do verdadeiro comandante.

Comunicação distribuída: nela, cada nó é um emissor em potencial. Não há cadeia de comando, mas sim pessoas que se reconhecem em rede e tem a intenção de mantê-la pulsando.

No vídeo do TEDx Floripa, Oswaldo explica um pouco sobre os paradigmas de escassez e de abundância e cai no conceito das redes. Ele também fala um pouco da Madalena 80, a casa experimental que veio antes da Laboriosa.

“Queremos falar com os líderes do movimento”

Nas manifestações em 2013, no Brasil, uma das coisas que me incomodaram foi ver o repúdio às bandeiras partidárias e de movimentos sociais organizados. Me parecia ridículo e até mesmo agressivo. Ainda intrigado, hoje somo outros olhos a esse comportamento: foi, talvez, uma simples repulsa a qualquer tipo de tomada de voz.

They live
They Live, de 1988

Visto geralmente em abelhas, o comportamento chamado de swarming (enxameamento) é hoje também utilizado também designar o movimento em grupo feito por peixes, aves e outros seres. É o movimento coletivo de um grande número de indivíduos que se organizam sem nenhuma centralização de comando.

A rede é a interação que acontece entre os nós, e é dessa interação que ela se alimenta. O que muda uma rede, então, é a sua forma, não o conteúdo. Sem cadeia de comando ou nós centralizadores, a informação flui naturalmente entre os que se reconhecem. Sem líderes, a rede se auto-organiza de acordo com a necessidade.

De acordo com Augusto de Franco, criador da Escola de Redes, as redes são locais de interação, não de participação. Participação implica em fazer parte, em entrar numa rede e jogar de acordo com o que existe. Interação, pelo outro lado, é o cria o ambiente: não se entra na rede, mas entra-se em rede.

A natureza é cíclica e nada é perene

Na conversa que tivemos com o Oswaldo, ele nos contou um pouco sobre o fim do seu ciclo na Laboriosa 89. Um ano após a sua aposta de pagar 12 meses adiantados de aluguel, ele resolveu não renovar o contrato por achar que o seu objetivo de fomentar o trabalho em rede já havia sido alcançado. Com seu afastamento, a casa ficou então sob os cuidados de Fabio Novo, proprietário da casa e responsável por comunicar, seis meses depois, o encerramento das atividades da Laboriosa 89.

Pra mim, que não cheguei a conhecer a casa, ficam só as palavras e depoimentos. Deles, percebi que o caos nunca foi um problema na Laboriosa. Mais que isso, os conflitos existiam e, como explica Oswaldo no vídeo, eram resolvidos ou não pelas partes que nele se encontravam. Com o proprietário, contudo, vieram novas caras e atitudes. Os questionamentos com o lixo e os pedidos de ajuda na hora de pagar as contas levaram ao recrutamento de responsáveis por cada um dos cômodos. Consequentemente, a arrecadação mensal diminuiu ainda mais. A cartada final foi o fechamento de um dos espaços da casa e seu uso condicionado ao pagamento do aluguel. A Laboriosa foi lentamente se tornando um lugar com cadeia de comando e portas chaveadas. Da abundância para a escassez.

Para Oswaldo, entretanto, nada mais normal: é simplesmente o fim de um ciclo.

“A casa será entregue e a rede continuará a sua manifestação em outros lugares. Alguns já existem e, no tempo deles, morrerão também. Outros não existem ainda mas nascerão, no seu tempo. E assim a vida segue tendo como única constante a transformação”

Oswaldo Oliveira, em entrevista para a Draft

É ler os comentários do post de encerramento e confirmar a frase acima. A reverberação continua.


Referências

Você pode gostar também

2 respostas para “Empreender-se em rede, com Oswaldo Oliveira: as redes”

  1. […] Empreender-se em rede: as redes […]

  2. […] Este texto possui duas partes. Leia a segunda aqui. […]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *