Cibermundo: a política do pior

Não conhecia Paul Virilio, mas me interessei pela leitura quando soube de sua fama negativa e crítica com relação aos avanços das tecnologias de informação. Não sabia que o formato do livro seria um bate-bola com o jornalista Phillipe Petit, então senti falta de um maior trabalho em cima do tema. Além disso, não estando habituado com teóricos culturais – principalmente aqueles lidos em português de Portugal, me perdi um pouco entre um e outro pensamento.

No entanto, uma passagem me chamou a atenção, especialmente em um livro que foi publicado no final dos anos 90 baseado, pelo que pesquisei, em uma conversa ocorrida em 1996. Ele desenvolve a ideia de que grandes descobertas tem, em seu interior, um potencial negativo de mesmo tamanho de sua positividade. Aqui, ele cita a internet como uma tecnologia que, pelo visto, ainda está pra enfrentar um iminente desastre:

A Internet tem sua própria negatividade. Mas o desenvolvimento das tecnologias não se pode fazer senão através da análise e da ultrapassagem destes acidentes. Quando foram lançadas as ferrovias, o tráfego era mal regulado e os acidentes multiplicavam-se. Os engenheiros reuniram-se em Bruxelas em 1880 e criaram o famoso bloco-sistema. O naufrágio do Titanic oferece-nos um exemplo semelhante. Após essa tragédia, desenvolve-se o SOS.

(…)

Ora, hoje, as novas tecnologias, como a Internet, saíram da revolução das transmissões. Elas provocam acidentes imateriais que são infinitamente menos percebidos.

(…)

Nós aplicamos a velocidade limite da luz às mensagens, à interatividade e ao trabalho à distância. Doravante, estamos a gerar um acidente da mesma natureza. É um acontecimento considerável que necessitaria, pelo menos, de uma crítica.

Preciso comer mais arroz e feijão pra acompanhar as viagens dessa galera. Ou, quem sabe, ler mais um ou dois livros de Virilio.


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